Limite de vagas por país gera distorção na classificação para novo Mundial de Clubes
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Desde o anúncio de sua criação, em dezembro de 2022, o novo Mundial de Clubes, com a primeira edição marcada para 2025, nos Estados Unidos, tem suscitado alguns debates no futebol. A começar pela dificuldade de acomodar no calendário uma competição que reunirá 32 equipes, já sobrecarregadas pelas atuais competições nacionais e continentais.
O inédito número de participantes, igual ao adotado nas Copas do Mundo de 1998 a 2022, também gerou discussões devido a distorções provocadas pelo sistema de classificação.
Além dos mais recentes campeões de competições como a Copa Libertadores e a Champions League, o torneio terá vagas definidas por ranking. Cada confederação continental tem uma classificação para distribuir essas vagas, porém com um limite de até dois clubes do mesmo país, a não ser em caso de equipes que tenham sido campeãs continentais.
A América do Sul é um bom exemplo de exceção à restrição. A região tem direito a seis vagas no Mundial, sendo quatro dos campeões da Libertadores de 2021 a 2024 e duas via da ranking Conmebol (Confederação Sul-Americana de Futebol). Até o momento, quatro representantes estão definidos, três do Brasil: Palmeiras, Flamengo e Fluminense, vencedores, respectivamente, da Libertadores em 2021, 2022 e 2023.
Por essa razão, nenhum outro time do país poderá se classificar via ranking, mesmo que esteja em posição de destaque. É o caso do Atlético Mineiro, por exemplo, o terceiro da lista. Impedido pelo limite por país, o clube seria preterido por um time que aparece bem abaixo no ranking, o Olimpia, do Paraguai, atualmente em oitavo.
Na última terça (14), com uma vitória sobre o o paraguaio Libertad, o River Plate, da Argentina, quarto do ranking sul-americano, assegurou sua vaga. A equipe também está atrás do Atlético.
O ranking é determinado pelo desempenho de cada clube na principal competição do continente de 2021 a 2024, de acordo com os seguintes critérios: três pontos por vitória, um ponto por empate e três por classificação a cada fase.
Ainda sem a definição do campeão da Libertadores de 2024, além do River Plate (4º), a América do Sul teria como representantes no Mundial via ranking o Boca Juniors (6º) e o Olimpia (8º). Para ficar com a vaga, porém, o Olimpia, que está fora da Libertadores, precisa torcer para que Palmeiras, Flamengo ou Fluminense vença a atual edição do torneio continental, o que faria a vaga redundante ser destinada ao ranking.
O Atlético ainda mantém chance de disputar a competição nos Estados Unidos, mas só tem um caminho: ser o campeão da Libertadores deste ano.
Vida mais fácil teve outro Atlético, o de Madri, que, sem nunca ter sido campeão da Champions League, será um dos 12 representantes da Europa no Mundial.
Isso porque a equipe da capital espanhola levou a melhor na disputa, via ranking, com o Barcelona. Na Europa, a Fifa (Federação Internacional de Futebol) reconheceu a existência de um coeficiente de clubes europeus e adotou modelo diferente de pontuação na Champions League em relação à Libertadores.
Na Europa, são dois pontos por vitória, um por empate, quatro para classificação para a fase de grupos, cinco por classificação para as oitavas e mais cinco pelo avanço a cada uma das fases seguintes.
Ao término das quartas de final desta edição, fase em que acabou eliminado pelo Borussia Dortmund, o Atlético somava 67 pontos contra 61 do Barcelona.
A equipe catalã acabou pagando pelo fato de não ter sobrevivido à fase de grupos nas edições de 2021/22 e 2022/23, sobretudo na primeira, quando o Atlético chegou às quartas de final. Neste ano, o Barcelona também caiu nas quartas.
A sequência da Champions fechou a lista com os 12 representantes europeus no novo Mundial de Clubes, sendo o RB Salzburg, da Áustria, o último classificado, via ranking.
O clube aparece apenas em 18º na lista, atrás de potências como Liverpool, Barcelona e Milan, mas ficou com a vaga pelo critério que impede mais de duas equipes do mesmo país via ranking.
A lista europeia para o Mundial 2025 conta, ainda, com Chelsea, Real Madrid e Manchester City, os últimos campeões europeus, além de Bayern, Borussia Dortmund, PSG, Inter de Milão, Juventus, Porto, Benfica e Atlético de Madrid, todos via ranking. Nada mudará na lista com a decisão da Champions, entre Real e Dortmund.
A Europa é o continente com o maior número de representantes, seguida por América do Sul, com seis. A confederação da Ásia, a da África e a que reúne América do Norte, Central e Caribe terão quatro vagas cada uma. A Oceania terá direito a uma vaga, assim como o país-sede.
O número de participantes europeus foi uma condição da Uefa (União das Associações Europeias de Futebol) para apoiar a nova competição, que nasceu sob críticas, sobretudo da Fifpro, entidade que reúne sindicados de atletas de futebol ao redor do mundo. A organização teme que o novo torneio possa aumentar a sobrecarga física e psicológica dos jogadores, além de ampliar os riscos de lesões.
"Essa nova implementação sobre a carga de trabalho dos jogadores demonstra uma falta de consideração pela saúde mental e física dos jogadores, bem como um desrespeito", argumentou a entidade.
Embora também pressionada por seus calendários continentais, as confederações não ecoaram críticas à competição, que deve movimentar grandes cifras em acordos de direitos de TV.
De acordo com o jornal The New York Times, a Fifa tem encaminhado um acordo com a Apple para vender os direitos do Mundial de Clubes por US$ 1 bilhão (R$ 5 bilhões). Não está claro, porém, se o contrato teria alcance global. Também não foi esclarecido se haverá oferta de jogos gratuitos ou apenas para assinantes da Apple TV+.
Detalhes do acordo devem ser divulgados no final deste mês, quando o contrato deverá ser assinado entre as partes.
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